A sensação térmica no último sábado em Toronto era de -21°C. Eu costumo hibernar em janeiros em fevereiros, porque quando as temperaturas caem para esse nível, eu preciso de um motivo imperdível para sair de casa, e quase nenhum parece suficiente. Se eu recebesse um convite de lançamento de livro nessas condições, eu não pensaria duas vezes em continuar na minha cama quentinha. Acontece que eu é que estava lançando um livro. Eu e outras 24 escritoras, então sendo assim, era motivo suficiente pra eu sair da cama, ainda que com preguiça. Com preguiça e com a expectativa de encontrar meia dúzia de gatos nevados. Afinal, quem sairia de casa neste sábado para um lançamento de livro?
Felizmente eu não sou todo mundo e todo mundo não sou eu. O evento estava lotado! Nem a organização do evento esperava tanta gente e o espaço ficou pequeno. Famílias, amigos, brasileiros engajados na comunidade, estrangeiros que não sabiam falar português e que ficaram apenas acenando com suas cabeças ou tentando entender o que acontecia usando aplicativos de tradução simultânea. Todos envoltos naquela energia que emana das grandes vitórias.
Escrever é um trabalho solitário. Um mexer e remexer no texto e na alma, tendo por testemunha apenas nosso cansaço, frustração e algumas vezes alegria. Por isso mesmo nos sentimos muito vulneráveis em colocar nossos escritos no mundo. Quando esse trabalho se torna um trabalho coletivo, a mágica acontece.
Participar de uma coletânea como essa, sobre um tema tão presente nas nossas vidas, nos deu a oportunidade de sentir o coletivo, a comunidade, a força de mulheres juntas em torno de um propósito.
Muitas das escritoras estavam emocionadas. Mulheres jovens, maduras, mães de bebês, de adolescentes, de crianças atípicas, profissionais, criativas, sonhadoras. Algumas que adiaram o sonho, outras que sequer ousaram sonhar. Todas felizes por finalmente se dizerem escritora, de verem seus nomes num livro, por terem se permitido sonhar, realizar, e continuar sonhando. Todas juntas falando sobre terem saído do seu lugar, de não pertencer, mas todas se encontrando na literatura. Seria a literatura esse lugar que a gente procura em nós?
Sábado, Toronto, -21°C. Esse foi um dia para não ser esquecido.



Quero agradecer mais uma vez à Andrea Villela, grande realizadora do projeto junto com a Livraria Canoa, e que fez tudo para ele fosse pro papel (saísse do papel e voltasse?), mesmo com a vida acontecendo no meio do processo. Espero que essa seja apenas a primeira parceria de muitas entre nós. Obrigada também ao Jornal de Toronto, e Mellohawk, que ajudaram com a logística e patrocínio para que esse sonho de muitas se concretizasse.
E que a gente continue se permitindo sonhar. Como diz minha querida Cris Lisbôa, sonho é destino.
Clique aqui para aquirir o livro e apoiar esse projeto.
Maravilhosa
Parabéns!!!! Muito sucesso 💕